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Foto do escritorCleber Eduardo

Criança, lhama, deserto: cinema andino



Recai quase sempre sobre uns tantos filmes latino americanos a desconfiança de usarem algumas paisagens típicas e únicas como atrações para os olhares de outros continentes em festivais e encontros de mercados. O deserto e as florestas são duas dessas paisagens for export.


Procura-se em uns tantos filmes estabelecer uma relação entre estes dois territórios em suas amplas riquezas e as vivências de personagens para se estabelecer uma abordagem na qual pessoas e contextos geográficos/culturais se retroalimentam. Não estamos falando de turismo antropológico, mas, antes, de uma narratividade por imagens com as quais nos reconhecem (como latino americanos no cinema)


É possível afirmar, considerando somente filmes dos anos 2000, que, para além de tantas diferenças entre cada um, existe um cinema do deserto e um cinema da floresta, entre tantos outros cinemas latino americanos em cada um dos países. Deserto e floresta, com povos originários em um ou outro eco sistema geográfico e social, tendem a viajar bem. São duas imagens fortes para a percepção externa.


Não se afirma com isso que o cinema urbano anda em baixo, com seus próprios tempos, características, intensidades e personagens, mas que esse outro cinema de desertos e florestas, tem se fortalecido internacionalmente, com suas imagens de pueblos e de alceias, com suas imagens de algo ainda arcaico, ancestral, de algo que se foi, mas que ainda permanece, hibridizado com a contemporaneidade


Tomemos o caso de Raiz (ou Entre Rochas e Nuvens, como foi exibido no Doc Lisboa), segundo longa metragem do peruano Franco Garcia Becerra, cujo primeiro longa, Vientos del Sur, estreou no Festival de Lima em 2018. Raiz deu um salto, estreou no Festival de Berlim, depois passou por Munique, indo do Peru para a Alemanha entre um longa e outro.


Compreensível. Além da paisagem desértica, o filme ainda conta um reforço de uma criança como protagonista e lhamas como companhia e outras crianças. É tudo um pouco parado no tempo, mas há camionetes e, mesmo com um pé forte nos povos anteriores aos espanhóis, torcem no futebol pelo Peru, pela seleção nacional, pela imagem e pelo símbolo do Estado-Nação, uma noção já bastante moderna


Poderia ser uma variação do cinema realizado na vizinhança e nos domínios do Irã, com suas propostas de fabulação narrativa sem nenhuma ruptura com o realismo visualmente cru. No entanto, é o cinema andino e, como aquele, consciente de sua luta por ocupação internacional de telas, discreta que seja, mínima que possa ser.





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