O documentário Formas de Atravessar um Território, segundo longa metragem da diretora mexicana, de Chiapas, Gabriela Dominguez Ruvalcaba, foi um raro filme latino americano exibido no Festival de Locarno de 2024. É belo e forte, centrado em mulheres de Chiapas, do povo Tzotzil, que trabalham com a criação e com a tosa de ovelhas. Filma-se a curta distância, com a câmera quase colada às mulheres e às ovelhas, mas colocando-as em uma perspectiva espacial, em espaços mais abertos, que trazem a imagem de uma geografia. Espaços e vidas, fundidos, é o que se filma. Há um tanto de senso antropológico de cinema (e só de cinema) e outro tanto de performatividade estimulada. O cinema não está ali como espião ou capturador de algo, de um modo de vida, de um cotidiano ritualístico do trabalho, mas como catapulta, disparador, provocador, sem romper com o que são as vidas sem a presença do cinema. Não há disposição, porém, de contextualizaçao. A proximidade com as vidas das mulheres tira-as de uma perspectiva social mais ampla, com uma aproximação como um jogo de gerar imagens e cenas, sem essas imagens e cenas serem representativas como intenção, no máximo como efeito tangencial. Mais que na estrutura, o valor está no plano, na indicialidade, na força de presença, no momento.
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