Lazaro de Noche, do diretor mexicano Nicolas Perela, é um filme de triângulo. Ou de dinâmicas de um tipo menos fechado de casal (o trisal). A premissa das relações fora dos padrões pode ainda chamar atenção, em si mesma, mas não é esse o diferencial do filme lançado no FED Marseille, em 2024, e depois exibido nos Festivais de Nova Iorque e de Toronto, neste último em parte por ter co produção canadense.
O que o diferencia, sem torná-lo original, é a encenação. Embora privilegie antes de tudo o enquadramento, até mais do que as cenas nelas mesmas, a encenação não é engolida pelo "quadro", sequer se torna sobrevivente de uma atitude visual. Além do design do plano, temos o ritmo dos diálogos, os silêncios, os olhares, os gestos e a trivialidade da duração. Há um aparente comprometimento com um estilo indie hypado, com mais selo dos EUA do que da América Latina.
De qualquer modo, pode-se ver fragilidades, maneirismo inócuo, formalismo de baixíssimo orçamento, mas não estereótipos, sobretudo aqueles vinculados a uma noção internacional de cinema mexicano, que tendem à violência ou aos exotismos de terra marcada pela presença e pelos vestígios das populações originárias. Em critica de Antônio Enrique González Rojas, na revista Rialta, exalta-se a evocação de fantasmas, a encarnação de obsessões, a reforma e deformação das formas fílmicas, a onírica dissolução da máscara realista.
O longa anterior de Perela, Fayna y Flora, foi premiado em Mar del Plata (melhor filme iberoamericano) e em Morelia (melhor direção). Há quem veja na passagem de um filme a outro a continuidade de uma atitude cinematográfica na contracorrente do cinema autoral e arroz de festa em festivais. Pode ser. E talvez seja esse seu único valor, tangencial, não um valor em suas próprias forças, mas no quanto é diferente da maioria do restante.
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